Se fores capaz de não perder a cabeça
quando todos à tua volta
perdem a deles e te culpam por isso;
se fores capaz de confiar em ti mesmo quando os outros duvidam,
mas aceitando perguntar a ti mesmo se não terão um bocadinho de razão;
se fores capaz de esperar sem deixar
que a espera te canse,
ou, sendo alvo de calúnia, te recusares a caluniar,
ou, sendo odiado, não te deixares levar pelo ódio
sem te tornar sobranceiro nem te perderes em palavras ocas;
se fores capaz de sonhar sem deixar que
os sonhos te escravizem;
se fores capaz de pensar, mas não
cruzares os braços;
se fores capaz de viver o triunfo e a
desgraça
tratando-os, a ambos, como importantes que são;
se fores capaz de suportar ver a
verdade das tuas palavras
deturpada por velhacos para a transformarem em armadilha para os tolos; ou,
vendo as coisas a que dedicaste a vida feitas em pedaços, te vergares para
as reconstruir com ferramentas já gastas;
se fores capaz de juntar, numa mão
cheia, todos os teus ganhos, arriscá-los num cara ou coroa,
perdê-los e começar do zero
sem nunca soltar um lamento;
se fores capaz de obrigar o teu
coração, o teu espírito e o teu corpo a servirem a tua vontade mesmo depois
de exaustos
e, assim, te mantiveres de pé quando já nada restar dentro de ti, exceto a
força que te diz: “Aguenta”;
se fores capaz de falar às multidões
sem perder a virtude,
caminhar com reis sem deixar de ser simples;
se nem os teus inimigos nem os teus amigos mais queridos te conseguirem
magoar;
se todos os homens contarem contigo, mas nenhum dispuser de ti;
se fores capaz de preencher o fugaz
minuto
com sessenta segundos vividos plenamente,
tua será a Terra e tudo o que nela existe,
e — o que mais importa — serás um Homem, meu filho!
Rudyard Kipling
Este poema foi composto por Rudyard Kipling, um dos
autores propostos para leitura e estudo no Novo Programa de Língua Portuguesa.
Na sociedade atual estamos a viver uma crise de
valores de tal maneira profunda que o ser humano é totalmente absorvido por
ela. O exemplo e os ensinamentos que os pais devem transmitir aos seus filhos
são os mais importantes e influentes na formação de qualquer indivíduo.
Não pretendendo generalizar, a grande
preocupação da família e da sociedade é preparar os nossos jovens para o
mercado de trabalho, para a ascensão social e profissional, dando-se especial
ênfase à individualidade e competitividade. Por vezes, os valores humanos são
quase esquecidos e é aqui que os pais e os professores têm um papel
fundamental. Educar, mas sempre com valores. São estes que permitem a
convivência humana e tornam os homens melhores.
As
formas de aprendizagem estão em constante mutação e a escola tem o dever de
acompanhar essas alterações. Mas, independentemente da época ou da evolução do
mundo, é preciso ensinar “valores base” aos nossos filhos e alunos como o
respeito, a responsabilidade, a cooperação, o sentido de justiça, a disponibilidade
para os outros. Já George Carlin, humorista e ator norte-americano, exímio na
crítica social, dizia:
“
Multiplicamos os nossos bens, mas reduzimos os nossos valores. Falamos de mais,
amamos raramente, odiamos frequentemente. Aprendemos a sobreviver, mas não a
viver; adicionamos anos à nossa vida e não vida aos nossos anos.”
CARTA A UM FILHO foi escrita em 1910 e é «um poema
duro, que exorta a nunca se render, a andar sempre de cabeça levantada, a não
se deixar enganar, a não perder o sentido da responsabilidade inclusive nas
circunstâncias mais adversas. Ter este código de conduta é, sem dúvida alguma,
muito difícil; sugeri-lo a um filho, é audaz e desafiador. Mas este discurso dito
em voz alta, solene, calmo, íntegro, sem medo de utilizar palavras transcendentes,
evoca um mundo de nobres valores luminosos e eternos.»
Esperemos que este texto seja um bom motivo para
desencadear diálogos frutíferos entre pais e filhos.
G.R.
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