sexta-feira, 23 de dezembro de 2011


O pequeno (grande) grupo que frequenta o Clube Escrever Mais escreveu postais de Boas Festas para a família, para os amigos, para os idosos e para crianças a quem não deixam ser meninos.
Estas mensagens são pequeninas  prendas natalícias, embrulhos feitos de palavras ternas para aqueles que amamos ou que merecem ser amados e não o são.
G.R. 

família

Família Sono Diego Rivera


Maria Beatriz, 7ºE


Miguel. 7ºE


amigos


Tomás, 7ºC

idosos


Teresa Lopes, 7º E


Sofia, 7ºC


crianças





 Poemas…poucos...







Recolha de Teresa Lopes, 7ºE

Uma imagem bonita para terminar por hoje...
G.R.



quarta-feira, 21 de dezembro de 2011


Sentir gratidão e não a expressar é como embrulhar um presente e não o entregar.
William A. Ward 


FELIZ NATAL EM TRINTA IDIOMAS

Alemanha: Fröhliche Weihnachten
Bélgica: Zalige Kertfeest
Brasil: Feliz Natal
Bulgária: Tchestito Rojdestvo Hristovo, Tchestita Koleda
Catalunha: Bon Nadal
China: Sheng Tan Kuai Loh (mandarín) Gun Tso Sun Tan'Gung Haw Sun (cantonês)

Coreia: Sung Tan Chuk Ha
Croácia: Sretan Bozic
Dinamarca: Glaedelig Jul
Eslovénia: Srecen Bozic

Espanha: Felices Pascuas, Feliz Navidad
Estados Unidos da América: Merry Christmas
Palestina: Mo'adim Lesimkha
Inglaterra: Happy Christmas
Finlândia: Hauskaa Joulua
França: Joyeux Noel
País de Gales: Nadolig Llawen

Galiza: Bo Nada
Grécia: Eftihismena Christougenna
Irlanda: Nodlig mhaith chugnat
Itália: Buon Natale
Nova Zelândia em Maorí: Meri Kirihimete
México: Feliz Navidad
Holanda: Hartelijke Kerstroeten 
Noruega: Gledelig Jul

Polónia: Boze Narodzenie
Portugal: Boas Festas
Roménia: Sarbatori vesele
Rússia: Hristos Razdajetsja
Sérvia: Hristos se rodi
Suécia: God Jul
Tailândia: Sawadee Pee mai
Turquia: Noeliniz Ve Yeni Yiliniz Kutlu Olsun
Ucrânia: Srozhdestvom Kristovym
Vietname: Chung Mung Giang Sinh


Assim podes desejar um Feliz Natal a todo o mundo. Todos os dias…para que não seja hipocrisia.
G.R.


SOLIDARIEDADES


O Primeiro Natal em Portugal

É véspera de Natal. Mas não para Irina. Para ela só será Natal a 7 de Janeiro, quando as aulas tiverem recomeçado.

A mãe aproveita umas horas extra, na pastelaria, para preparar fornadas de bolos-reis.

O pai, antes de sair, marcou-lhe páginas e páginas de trabalhos de casa. É preciso, para poder acompanhar os colegas.
Folheando o dicionário, a pequena ucraniana procura as palavras portuguesas que há-de escrever em frente das que tão bem conhece.

ОЛiВЕДЬ — lápis
ЗОШИТ — caderno
КИГА — livro
ШКОЛА — escola

Tudo diferente! Até o abecedário... Na escola, os outros fazem pouco dela e chamam-lhe “língua de trapos”. Que quererá isso dizer?
Vai à página 190, logo em seguida à 293. Era de calcular...
Tem, no entanto, orgulho em ser a melhor a matemática. Ninguém a bate em contas. Quando a professora entrega os testes e lhe dá vinte, há sempre um grupinho irritado que, no recreio seguinte, se junta, numa roda, à sua volta, cantarolando:

Irina, Irina, Irina,
Que menina tão fina!
Tem cara cor de sal,
Olhos cor de piscina.
Cabelos cor de margarina.
Ai, doem-te as saudades?
Vai tomar aspirina.

Na Ucrânia deixou tantos amigos...

Evita aqueles olhos escuros que se fixam nela, uns curiosos, outros trocistas, outros indiferentes.
Sente-se como uma extraterrestre. Porque é que os pais a mandaram vir?
Isola-se no recreio, a um canto, tentando desvendar a algaraviada das conversas. Às vezes, o Afonso murmura-lhe ao ouvido um segredo:
— Pareces uma fada!
E foge logo a correr.
Que palavrão será “fada”? Nem vale a pena procurar no dicionário. Algumas palavras que lhe dizem nem sequer lá vêm. A princípio ainda perguntou à mulher da limpeza o que significavam mas ela empurrou-a com a esfregona.
— Ordinária! Estes imigrantes mal sabem falar mas fixam logo a porcaria... Porque não voltam para o sítio de onde vieram?
Com lágrimas nos olhos, Irina vai agora à janela e vê as luzinhas acender e apagar nas árvores despidas. Por trás das paredes deslavadas das velhas casas, decerto se celebra a consoada. Como será?
Doze pratos se punham na mesa de festa no Natal da sua terra. Uma em memória de cada apóstolo.
É Natal em Portugal. Que interessa? A família está dispersa. A mãe a fazer bolos-reis que não vai provar porque para os ortodoxos é tempo de sacrifício e jejum. O pai lá anda, na construção civil. Como mais ninguém queria trabalhar na noite de 24, foi, sozinho, pintar um café que está a ser remodelado, ao fundo da rua. Os dois irmãos mais novos ficaram em Priluki, lá longe, com a avó.
Irina aquece a sopa e arranja uma sandes de queijo. Como pesa o silêncio!
De repente, sente um grito abafado no andar de cima. Algum assalto? Alguém que caiu? Não sentiu passos nem o baque de uma queda...
Com o coração a bater, põe-se a espreitar pelo óculo. Nada!
— Acudam! Acudam!
Mais ninguém se encontra no prédio. As lojas do rés-do-chão estão fechadas, os vizinhos do primeiro andar foram de férias. Por cima, na mansarda, mora uma rapariga nova, gorda, pálida.
Irina abalança-se a subir. A porta encontra-se apenas encostada e a miúda entra, a medo. Já ninguém grita. Um gemido fraco ecoa ao fundo do corredor.
Haverá feridos? Tem horror ao sangue. Por um momento, pensa em voltar para trás. Mas prossegue, pé ante pé, até ao quarto.
Deitada na cama, a moça, que ela conhece de vista, geme, agarrada à barriga enorme. Irina aproxima-se, repara que está alagada em suor.
— Ladrão atacar tu? Estar doente?
Tremendo, a outra responde:
— Chama o 112. O bebé vai nascer.
Que será o 112? Estará ela a delirar? Quase desfalece.
Então Irina precipita-se pela escada abaixo. A rua encontra-se deserta. Não conhece ninguém nas redondezas. Corre até ao café onde o pai está a pintar paredes.
— Pai, pai! — grita ela.
Anton desce do escadote, pousa o rolo, inquieto ao ver a filha naquela aflição.
— Que foi? Aconteceu alguma desgraça?
Mal sabe o que se passa, marca um número no telemóvel, dá a morada, pede urgência. Segue-a em passo apressado. Sobre eles desaba uma chuva gelada. Ficam com os cabelos a escorrer, encharcam os sapatos nas poças que, num instante, se formam.
Chegados ao prédio, o ucraniano galga os degraus dois a dois, entra sozinho no quarto da vizinha. A filha fica à espera.
— Irina, ferve uma panela de água. Traz-me um frasco de álcool, uma tesoura, toalhas.
A miúda obedece, confusa.
— Traz-me roupa lavada, para me mudar!
O pintor despe o fato-macaco, sujo de tinta e de pó, na casa de banho, enfia uma camisa branca, umas calças desbotadas. Esfrega as mãos e a tesoura com álcool.
— Irina, a água já ferve?
De novo no quarto, fala pausadamente com a rapariga, em voz alta. Ouve-se tudo cá fora.
— Força! Coragem! Está quase...
De súbito ouve-se o choro de um bebé.
— Entra, Irina — diz, pouco depois, o pai. — Vem ajudar. Já és crescida.
Entrega-lhe o recém-nascido.
A rapariga, na cama desalinhada, sorri.
— Embrulha-o num xailinho. Está na gaveta do meio.
Irina aconchega aquele corpo tão pequenino e frágil. Embala-o devagarinho, como fazia com as bonecas. Uma minúscula mãozinha aperta então o seu polegar.
O alarme de uma ambulância apita. Pára à entrada do edifício. Duas enfermeiras precipitam-se pela porta dentro.
— Então, viram-se atrapalhados? Um parto faz sempre confusão, principalmente aos homens.
— Sou médico — confessa o ucraniano. — Mas, em Portugal, ando nas obras...
As enfermeiras cruzam um olhar subitamente triste. Examinam a criança.
— O bebé nasceu no dia de Natal. É o nosso Menino Jesus.
A mãe olha para o homem e pergunta:
— Como é que o doutor se chama?
— Anton.
— António? Quer ser o padrinho? Vou pôr-lhe o seu nome.
As enfermeiras levam a rapariga e o bebé para a ambulância.
— Vão dar um passeio até à maternidade. Estão ambos óptimos.
— Manhã nós visitar! — exclama a garota.
Já passa da meia-noite. Pai e filha descem até ao patamar do primeiro andar. Na escada nunca há luz. Felizmente a gente do 112 usa lanternas... Mas, logo que o pessoal da ambulância se afasta, a escuridão instala-se. Às apalpadelas, o pai mete a chave na fechadura. Tropeça num embrulho.
— Que será? — espanta-se ele. — Esta é uma noite de surpresas.
Sobre o tapete de cairo está um embrulho enfeitado com um laçarote cor-de-rosa. Traz um bilhete preso com fita-cola.

Para uma fada loura.
com amizade


A menina abre-o. É um conjunto de canetas de ponta de feltro.
— O Pai Natal português não se esqueceu de ti — ri-se o médico.
— O Afonso é a única pessoa que me trata por fada — replica a Irina, um bocadinho corada.
Corre para o dicionário, passando as páginas até à número 159 e exclama, radiante:

O
ЗНАКА — fada

Depois, pega numa folha de papel e desenha, a amarelo, uma estrela a brilhar, a brilhar, a brilhar.


Luísa Ducla Soares
Há sempre uma estrela no Natal
Porto, Civilização Editora, 2006






Para descontrair um pouco…





Esta última escolha pertence à Maria Beatriz, do 7ºE. 


PROVOCAÇÕES


Estamos em período de contenção. Por isso, um abraço é um grande presente – tamanho único e fácil de trocar.
G.R.



sábado, 17 de dezembro de 2011


O mês de Dezembro ainda nos proporcionou dois encontros no Clube Escrever Mais. E com eles veio o Natal. Podem pensar que é banal. O tema do mês ser "O Natal"!...Eh!...Alguns poetas e romancistas portugueses acham que não. A beleza  emana sempre do imaginário destes eleitos com fluidez e naturalidade.Às vezes nem eles se apercebem da facilidade com que transformam o vulgar em belo.Os sábios são humildes. De outra forma seriam ignorantes.
G.R.

P.S. Não acho o Natal vulgar, mas o teclado teima em levar-me a uma frase que se banalizou, não pelo seu conteúdo, mas pelo seu uso:"O Natal é quando um homem quiser."



Os poetas portugueses escrevem sobre o Natal

PRELÚDIO DE NATAL

Tudo principiava
pela cúmplice neblina
que vinha perfumada
de lenha e tangerinas


Só depois se rasgava
a primeira cortina
E dispersa e dourada
no palco das vitrinas


a festa começava
entre odor a resina
e gosto a noz-moscada
e vozes femininas


A cidade ficava
sob a luz vespertina
pelas montras cercada
de paisagens alpinas
                          David Mourão-Ferreira


FALAVAM-ME DE AMOR
Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.

Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.

O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.

                                             Natália Correia, O Dilúvio e a Pomba, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1979




Natal

Leio o teu nome
Na página da noite:
Menino Deus...
E fico a meditar
No milagre dobrado
De ser Deus e menino.
Em Deus não acredito.
Mas de ti como posso duvidar?
Todos os dias nascem
Meninos pobres em currais de gado.
Crianças que são ânsias alargadas
De horizontes pequenos.
Humanas alvoradas...
A divindade é o menos.
                                                                 Miguel Torga

História Antiga


Era uma vez, lá na Judeia, 
um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da nação.

Mas, por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga





Natal à beira-rio

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurreta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado…
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia…
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
David Mourão-Ferreira


 

ÁRVORE DE NATAL 
A Árvore de Natal é um pinheiro ou abeto, enfeitado e iluminado, especialmente nas casas particulares, na noite de Natal.
A tradição da Árvore de Natal tem raízes muito mais longínquas do que o próprio Natal.
Os romanos enfeitavam árvores em honra de Saturno, deus da agricultura, mais ou menos na mesma época em que hoje preparamos a Árvore de Natal. Os egípcios traziam galhos verdes de palmeiras para dentro de suas casas no dia mais curto do ano (que é em Dezembro), como símbolo de triunfo da vida sobre a morte. Nas culturas célticas, os druidas tinham o costume de decorar velhos carvalhos com maçãs douradas para festividades também celebradas na mesma época do ano.
Segundo a tradição, S. Bonifácio, no século VII, pregava na Turíngia (uma região da Alemanha) e usava o perfil triangular dos abetos com símbolo da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). Assim, o carvalho, até então considerado como símbolo divino, foi substituído pelo triangular abeto.
Na Europa Central, no século XII, penduravam-se árvores com o ápice para baixo em resultado da mesma simbologia triangular da Santíssima Trindade.
Como o uso da árvore de Natal tem origem pagã, este predomina nos países nórdicos e no mundo anglo-saxónico. Nos países católicos, como Portugal, a tradição da árvore de Natal foi surgindo pouco a pouco ao lado dos já tradicionais presépios.
Contudo, em Portugal, a aceitação da Árvore de Natal é recente quando comparada com os restantes países. Assim, entre nós, o presépio foi durante muito tempo a única decoração de Natal.
         Até aos anos 50, a Árvore de Natal era até algo mal visto nas cidades e nos campos era pura e simplesmente ignorada. Contudo, hoje em dia, a Árvore de Natal já faz parte da tradição natalícia portuguesa e já todos se renderam aos Pinheirinhos de Natal!



Brevemente publicarei os trabalhos que, na última quarta-feira, foram realizados pelos alunos que frequentam o clube. Até lá, então.
G.R.



Terminámos o primeiro período debatendo com os nossos alunos a importância das novas tecnologias: e-mail, blogue, fórum...e outras redes sociais.
O manual do 7º ano de escolaridade aborda esta temática de um modo muito assertivo e didático, alertando os alunos para as vantagens do uso da Internet, mas também para os perigos que dela advêm.Penso que os jovens têm consciência dessas armadilhas e sabem como fugir delas...embora todo o cuidado seja pouco.A propósito deste tema, deixo-vos um texto da Luísa Ducla Soares, que se rendeu completamente aos benefícios das novas tecnologias. Não tenho a visão do velho do Restelo e não acuso a Internet de ser uma bruxa maléfica que arrasta meninos indefesos para os sítios perigosos. Mas quem me tira um livro tira-me quase tudo.
G.R.


Texto de opinião

Há fadas na Internet?


     A Internet é, a meu ver, uma fada que, com um clic, nos faz girar pelo vasto mundo. Tem como mediadores um rato mágico e um tapete voador capaz de nos transportar em segundos até à Antártida, ao encontro dos pinguins-reais ou nos solta num castelo assombrado com seus fantasmas imaginários.
É um espaço extraordinário, quase de ficção, que consegue guardar numa caixinha bibliotecas inteiras, canais de televisão, estações de rádio, salas de jogos, postos de correio, pontos de encontro para quantos buscam companhia.
Só quem não lida assiduamente com a Internet, quem nunca explorou as suas potencialidades, a poderá acusar de cercear a imaginação, de fechar portas, de não abrir janelas.
Eu passo, por motivos profissionais, muitas horas por dia diante do écran dum computador e habituei-me, embora tardiamente, a aceder em suporte eletrónico ao que antes acedia por meios mais tradicionais.
As pessoas cruzam-se, indiferentes na rua, como se fossem habitantes de planetas distantes, e o primeiro “bom dia” que recebo vem pela Internet. Traz consigo, em anexo, golfinhos azuis saltando no mar ou algo igualmente inesperado.
As desigualdades sociais esvaem-se diante dela, e a Cinderela pode sair da cozinha no seu coche igual ao de qualquer princesa para entrar nos palácios reais. (...)
As crianças fechadas nos apartamentos, os doentes, os burocratas que bocejam colados em cadeiras, com ela ganham de repente alento e voam pelos ares como andorinhas.
Os velhos do Restelo acusam a Internet de ser uma bruxa maléfica que arrasta meninos indefesos para os sítios perigosos – chats onde se escondem pedófilos, jogos de violência e locais quejandos. Acusam-na até de contribuir para a obesidade infantil como se a informática forçasse a comer batatas fritas ou prendesse alguém com algemas, impedindo qualquer exercício físico.
Já se terão preocupado em descobrir sítios sugestivos de ciência, literatura, artes, cidadania dedicados aos mais novos? Já se sentaram ao lado de uma criança, lendo um conto de Andersen ou a história do dia de António Torrado no monitor?
Já a terão levado a conhecer os jornais escolares que por todo o país se publicam em formato digital e albergam textos e desenhos de miúdos desde a pré-primária?
Já acederam a blogs  infantis que são a  nova versão dos diários, e terão entrado assim na intimidade, na criatividade dos jovens?
Já consultaram o Plano Nacional de Leitura, a Casa da Leitura, a netescrit@ para, a partir da Internet, conhecerem outros autores e seleções de livros para a infância elaboradas por especialistas?
Pensando nos miúdos a quem a infância é tantas vezes roubada porque os adultos deixaram de crer no lado mágico da vida, desejo ardentemente que eles tenham a possibilidade de aceder à Internet, A Terra do Sempre, para onde não há limites para a imaginação. A imaginação também faz crescer: o sonho, essa constante da vida, nas palavras certas de Gedeão, não é rota para a desarticulação com a realidade, mas caminho iluminado que conduz às grandes descobertas.

Luísa Ducla Soares, in Páginas Soltas, Boletim Informativo da Biblioteca Municipal de Lagos



E o senhor inverno está prestes a chegar. Quem fala dele é a Maria Beatriz, do 7ºE.

O inverno de Van Gogh


Para descontrair um pouco...
Descobri a Feist há pouco tempo. Gosto do estilo, da voz, da paisagem cinzenta que me faz lembrar o inverno.
G.R.




sexta-feira, 9 de dezembro de 2011



Não me esqueci de publicar as cartas dos nossos alunos do Clube Escrever Mais. Elas estão tão originais que não podem ficar guardadas na gaveta.São pequenas pérolas literárias que nos fazem pensar que, afinal, há gente jovem nas nossas salas de aula que fala muito, que diz que a escola é "uma seca"...mas depois surpreendem-nos.Ora vamos lá às missivas.
G.R.

CARTAS A DESTINATÁRIOS EXTRAORDINÁRIOS (PARTE II?)


CHUVA


                      Tavira, quarta-feira, 30 de novembro de 2011                                                                  
  
Querida chuva,

eu admiro-te muito pela forma como cais nas nossas terras, pela forma como és fresca e miúda. Observo-te pela janela, sempre que nela bates e escorregas devagar, tão espontânea que apareces, por vezes, de surpresa, deixando qualquer pessoa admirada.
         Quando vou de caminho para a escola sozinha, tu apareces para me animar. Acompanhada pelo meu guarda-chuva, vou pisando as poças por ti deixadas, molhando as galochas de borracha. Vou então com um sorriso na cara até aparecer um lindo arco-íris no céu.
         Em noites em que estás zangada, até eu te temo, pois eu oiço-te rugir, batendo com força nas janelas das casas vizinhas, podendo assustar mesmo aqueles que se consideram destemidos.
         Muitas vezes, preciso de refrescar as ideias, refrescar a minha vida e lembro-me da água tão preciosa que libertas para os oceanos.
         Obrigada.
                                       Maria Beatriz Carmo, nº15,7ºE  
                                 
                                 PLANETA TERRA



                            Tavira, quarta-feira, 30 de novembro de 2011

         Há muitos planetas no grande e imenso Universo, mas, de todos, o que eu mais gosto és tu, Terra.
         É em ti que eu vivo numa pequena cidade chamada Tavira. E ao longo dos anos vou aprendendo mais sobre a tua longa história de vida, que acho fascinante : como nasceste, cresceste e especialmente como foste capaz de aceitar a vida em ti.
         Sei que a única coisa que nos pedes é que cuidemos de ti como tu cuidas de nós, pois às vezes somos egoístas para contigo e destruímos-te cada vez mais. Mas prometo que me vou esforçar por ti.
  Giras em volta do sol que nos aquece todos os dias, e gostava de te perguntar se nunca te cansaste de o fazer.
   Mas mais nenhum planeta é como tu, ou pelo menos aqueles que já conheço. Por isso te escrevi esta carta.
  Da tua grande amiga …Maria Beatriz.

                                                        Maria Beatriz Carmo,nº15, 7ºE



O MEU CORPO



Sofia Pereira
Av. Como tratar do seu corpo, 780,4º Direito.
                                                                         
                                                                Tavira,30 novembro de 2011
              Saudações, Amigo!

          Venho por este meio chamar-te a atenção de que tenho tido uma depressão devido ao corpo que tenho, ou seja, não tenho o corpo que queria!
         Gostava de poder ter um corpo maravilhoso, ou melhor, poder fazer magia todos os dias, para poder escolher as roupas que visto e a aparência que me apetece ter num dia…
          Sabes? Desiludiste-me tanto! Porque em vez de ser negra, não sou rosa? Em vez de ter dentes brancos não tenho verdes? E em vez de ter cabelo em palha não tenho liso ou encaracolado?
         Gostava tanto… Iria adorar ser rosa, ter dentes verdes e ter cabelo liso!!!
       Posso-te pedir uma coisa? Muda o meu visual. De certeza que iria ser mais feliz e ter menos que fazer, como por exemplo: não acordar todos os dias de manhã com o cabelo para o ar e ter de o lavar sempre, sempre, sempre, ou então, ter roupas lindíssimas dentro do meu guarda-roupa e num abrir e fechar de olhos poder ser linda e maravilhosa como uma princesa!
        Acho que tenho de ir. A minha mãe está-me a chamar para a ir ajudar a estender a roupa!
          Ah! E não te esqueças do que falámos!

                                      Com os meus cumprimentos…                             

                                                                             Sofia Pereira, Nº23, 7ºC
                                                                    
                                                                             

                                                  mulher rosa, mulher flor

Sofia,
é fácil gostar do teu negro rosa, dos teus dentes brancos em tom de verde, do teu cabelo encaracolado que desarma qualquer liso vulgar. Somos todos belos ao olhar de quem nos ama. O segredo está no olhar...e na indiferença quanto à diferença. Dedico-te o texto que se segue, inspirado num poema de Vinicius de Moraes. A ti e a todos os jovens que acham que não são rosa nem têm dentes verdes.

G.R.





O LIVRO

                                                           O livro de Almada Negreiros



                                                                               Teresa Lopes,nº25, 7ºE


    Tavira, 30 de novembro de 2011
                       Querido livro…

Gostava que soubesses que és muito especial para mim. Não tenho palavras para descrever o quanto me ajudas nas aulas e o quanto me estorvas quando me aborrece estudar!
Às vezes penso como seria se pudesses falar, pois se consegues explicar-me as coisas por escrito  porque não poderás fazê-lo oralmente?
Gostava de ter alguém com quem falar quando me sinto triste em casa, quando não tenho nada para fazer ou quando me dizem coisas que não mereço ouvir!
Ao final da noite, gostava que me contasses uma história para poder adormecer e sonhar com o final dessa história até amanhecer.
De manhã acordava e punha-te na minha mochila pois, a partir de hoje, serias o meu melhor amigo! Todos pensam que sou uma doida, mas só tu me compreendes, só tu me aconselhas e só tu me ajudas!
Agradeço o objeto que és e por nada deste mundo isso irá mudar!
Adoro-te…                                                     
                                                              Sofia Pereira, nº23, 7ºC




O MEU CORPO II

quadro de Diego Rivera



                      Teresa Lopes,nº25, 7ºE

Teresa, vamos pôr de parte essa história da "bastante gordura sem a quereres largar". Estás a querer enganar-nos. O José Luís Peixoto é um escritor  e poeta português e dedica-te este poema. Vais gostar dele. Nasceu em Portalegre, em 1974. Um rapaz novo que não larga os piercings!...
G.R.


A MULHER MAIS BONITA DO MUNDO

Estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.

Entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.

Entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.

Há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.

Estás tão bonita hoje.

Os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

Estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.

Os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

De encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.


JOSÉ LUÍS PEIXOTO
A Casa, a Escuridão
(2002)


                                          José Luís Peixoto

Gosto muito deste escritor. Por isso fui espreitar o blogue dele e não resisti a "sacar" de lá este vídeo que fala muito das ideias que ele tem sobre a leitura e escrita. Uma conversa informal com a câmara, conversa simples e rica...como o José...e como ele merece.
G.R

                               


O CIGARRO

                    

Tavira, 30 de Novembro de 2011
                Exmo. Sr. Cigarro,
 mandei-lhe esta carta para lhe dizer umas determinadas verdades, porque, às vezes, o senhor parece que não tem noção da realidade. Ainda não percebeu que, ao ser consumido, as pessoas só se estragam a si mesmas? E não se trata só disso. Também se trata da poluição que o senhor causa. Já pensou que, se cada pessoa, quando fumasse um cigarro, o mandasse para o chão, nós já estávamos entupidos de tanto fumo? E tem muitos mais problemas, tais como: ser viciante, ser caro, diminuir o tempo de vida…
Os meus cumprimentos (e veja se muda de atitude!!!!)
PS: deixe de ser tão mau para o ambiente!   

                                                                                                                          Francisco,nº7, 7ºD                                  

O MEU CÃO

                                            Tavira, 30 de novembro, 2011

Querido cão...

Gostava que soubesses o quanto gosto de ti, mas é difícil explicar, porque tu és um pobre animal. Não me percebes e tenho muita pena por isso.
          Já agora também gostaria que percebesses que, para mim, és o meu melhor amigo, pois ninguém me escuta como tu. És fofinho, querido, simpático e tens tudo de bom.
         Se conseguisses falar comigo era espantoso. Haveria muitas coisas que partilharia contigo. Só me irritas quando queres todo o tipo da minha comida, como sandes e tudo mais.
         E ainda bem que estás junto da minha família, pois de outra forma andavas aí nas ruas, chamar-te-iam rafeiro e tratar-te-iam mal. Tens tu muita sorte.
         Eu prometo que, até à tua morte, nunca te deixarei nem te tratarei mal.
         Nas manhãs de escola, quando não sou capaz de me levantar, és tu que me lambes e me despertas. Adoro – te por isso.
                                                                               Ana Sofia, nº1, 7ºC