As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem.
As palavras pedem desculpa. As palavras queimam. As palavras acariciam. As
palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendidas e inventadas. As palavras
estão ausentes. Algumas palavras sugam-nos, não nos largam: são como carraças:
vêm nos livros, nos jornais, nos «slogans» publicitários, nas legendas dos
filmes, nas cartas e nos cartazes. As palavras aconselham, sugerem, insinuam,
ordenam, impõem, segregam, eliminam. São melífluas ou azedas. O mundo gira
sobre palavras lubrificadas com óleo de paciência. Os cérebros estão cheios de
palavras que vivem em boa paz com as suas contrárias e inimigas. Por isso as
pessoas fazem o contrário do que pensam, julgando pensar o que fazem. Há muitas
palavras.
José
Saramago
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