quinta-feira, 10 de janeiro de 2013



VALTER HUGO MÃE…UMA ESCRITA A LEMBRAR SARAMAGO







A Máquina de Fazer Espanhóis foi este ano o vencedor da categoria de romance da 10ª edição do Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa e o seu autor o vencedor do Grande Prémio Portugal Telecom, um dos mais importantes da literatura escrita em português.
O romance é o 4º volume de uma série composta por O Nosso Reino (2004), O Remorso de Baltazar Serapião (2006, vencedor do Prémio Saramago) e O Apocalipse dos Trabalhadores (2008).

“Valter Hugo Mãe, o homem das minúsculas, escreveu um dos melhores livros que já li. Para já considerei-o o meu "livro do ano". Confesso que não foi fácil começar a lê-lo, porque a falta de maiúsculas fez-me mais falta do que estava à espera. Foi a falta de maiúsculas e a falta de parágrafos. Que raio de mania esta dos escritores se promoverem pela diferença na forma da escrita! Não me lixem, por muito que todas as vírgulas estejam no lugar certo, há várias regras da gramática portuguesa completamente ignoradas. Mas,como li algures, a língua avança pela pena dos escritores e não através de acordos políticos. Por isso talvez o futuro seja esta forma de escrever. Afinal o Valter Hugo Mãe só foi pioneiro na questão das minúsculas, o resto faz lembrar Saramago.
Mas, depois de me ter habituado à falta do raio das maiúsculas e dos parágrafos, fiquei rendida a este livro. Pelo que sei, o autor escreveu quatro livros, cada um dedicado a uma fase da vida do ser humano. Comecei pelo fim, por este livro dedicado à terceira, à última idade. Não me fizeram falta os outros (mas vou lê-los, certamente) pela história de António Silva (um dos Silvas) na feliz idade, um lar de idosos, para onde foi "obrigado" a ir depois do fatídico dia que lhe mudou a vida para sempre. Lá, na feliz idade, a história já não é só dele, mas também do Anísio, especialista em arte antiga, do outro Silva que se mudou para lá antes da idade certa e de livre vontade, do Esteves sem metafísica - esse mesmo, o do Fernando Pessoa, do Pereira e de tantos outros. Do Américo, que dedica a vida aos velhos.
Como será sobreviver sem Amor? Sobreviver à pessoa Amada? A beleza de um sentimento transforma-se, numa fração de segundo, numa maldição. De um momento para o outro o que nos mantinha ancorados à vida é o que nos arrasta para a morte. Melhor seria que morrêssemos juntos, de mãos dadas. Como viver cada dia depois disso, com os filhos que os abandonam num lar? Como fazê-los compreender que não é justo, que a velhice acontece-nos, não a escolhemos? Como evitar pôr num lar os nossos pais, quando não temos condições nem tempo para eles? Como explicar-lhes essa decisão?”

Patrícia, in Ler por aí


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