Chove. Há Silêncio
Chove.
Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com
sossego.
Chove. O céu dorme.
Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o
sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem
sou) renego...
Tão calma é a chuva que
se solta no ar
(Nem parece de nuvens)
que parece
Que não é chuva, mas um
sussurrar
Que de si mesmo, ao
sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há
céu que eu sinta.
Chove longínqua e
indistintamente,
Como uma coisa certa
que nos minta,
Como um grande desejo
que nos mente.
Chove. Nada em mim
sente...
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Não és mais que a brisa
ali
Se eu te olho e tu me
olhas,
Quem primeiro é que
sorri?
O primeiro a sorrir ri.
Ri e olha de repente
Para fins de não olhar
Para onde nas folhas
sente
O som do vento a passar
Tudo é vento e
disfarçar.
Mas o olhar, de estar
olhando
Onde não olha, voltou
E estamos os dois
falando
O que se não conversou
Isto acaba ou começou?
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