sábado, 14 de abril de 2012

UMA DECLARAÇÃO DE AMOR À LÍNGUA PORTUGUESA


NA TUA VOZ A MINHA FALA
Quero somente falar de algumas coisas que me fazem mim, me fazem nós.

Transparências e obscuridades. Sínteses. Intimidades. Espaços. Abraço. Dizer talvez de uma casa. Tu sabes, palavra, que eu gosto de casas. Uma casa dentro de mim pejada de vozes, aquém – mim, além – mim, ao meu redor. Suas abertas e escancaradas portas, a rasgada janela que não se fecha ao horizonte. E, perfil de barco, esse terraço sobre o mar estendido, essa ágil constância, a casa que se transforma sempre nas vozes dos seus habitantes. Carne e osso da boca. Substância. Tão ternos e tão rijos os frutos, seus enigmas e maravilhas incessantemente mastigados.
Será curta esta carta. A avó – e tu o sabes – nunca dizia imbondeiro, dizia mikondó. E sabes tu que, por isso, os pássaros no poema se chamam suinsuin, keblankaná, ossobó.
Sabes que isso faz feliz o poema.
Diz-me na volta do correio, diz-me se não reconheces na tua voz a minha fala.
Conceição Lima,  são-tomense, poetisa e jornalista
G.R.

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