quinta-feira, 18 de abril de 2013


Já tive um carro da cor dos teus olhos (…)
 
 
 Esperava por semáforos, sem saber que esperava
 apenas por ti. No autorrádio, a tua voz cantava
 fados demasiado velhos até para a minha mãe.
 
 A segunda circular era uma manifestação pacífica
 de para-brisas, as palavras de ordem eram simples
 porque ainda não sabia que já me tinhas escolhido.
 
 Quando os outros rapazes folheavam revistas de
 carros nas aulas de matemática, eu apenas me
 interessava por unicórnios e farmácias abandonadas.
 
 Agora os meus olhos contam quilómetros nos teus,
 procuro papéis entre os papéis do guarda-luvas e
 tenho tanto medo que me vendas em segunda mão.
 
José Luís Peixoto
in «Gaveta dos Papéis»,
Quasi, Vila Nova de Famalicão, 2008


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