Não me esqueci de publicar as cartas dos nossos alunos do Clube Escrever Mais. Elas estão tão originais que não podem ficar guardadas na gaveta.São pequenas pérolas literárias que nos fazem pensar que, afinal, há gente jovem nas nossas salas de aula que fala muito, que diz que a escola é "uma seca"...mas depois surpreendem-nos.Ora vamos lá às missivas.
G.R.
CARTAS A DESTINATÁRIOS
EXTRAORDINÁRIOS (PARTE II?)
CHUVA
Tavira,
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Querida chuva,
eu
admiro-te muito pela forma como cais nas nossas terras, pela forma como és
fresca e miúda. Observo-te pela janela, sempre que nela bates e escorregas devagar,
tão espontânea que apareces, por vezes, de surpresa, deixando qualquer pessoa
admirada.
Quando
vou de caminho para a escola sozinha, tu apareces para me animar. Acompanhada
pelo meu guarda-chuva, vou pisando as poças por ti deixadas, molhando as
galochas de borracha. Vou então com um sorriso na cara até aparecer um lindo
arco-íris no céu.
Em
noites em que estás zangada, até eu te temo, pois eu oiço-te rugir, batendo com
força nas janelas das casas vizinhas, podendo assustar mesmo aqueles que se
consideram destemidos.
Muitas
vezes, preciso de refrescar as ideias, refrescar a minha vida e lembro-me da água tão
preciosa que libertas para os oceanos.
Obrigada.
Maria Beatriz Carmo, nº15,7ºE
PLANETA TERRA
Maria Beatriz Carmo, nº15,7ºE
PLANETA TERRA
Tavira,
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Há
muitos planetas no grande e imenso Universo, mas, de todos, o que eu mais gosto
és tu, Terra.
É
em ti que eu vivo numa pequena cidade chamada Tavira. E ao longo dos anos vou
aprendendo mais sobre a tua longa história de vida, que acho fascinante : como
nasceste, cresceste e especialmente como foste capaz de aceitar a vida em ti.
Sei
que a única coisa que nos pedes é que cuidemos de ti como tu cuidas de nós,
pois às vezes somos egoístas para contigo e destruímos-te cada vez mais. Mas
prometo que me vou esforçar por ti.
Giras em volta do sol que nos aquece todos os
dias, e gostava de te perguntar se nunca te cansaste de o fazer.
Mas mais nenhum planeta é como tu, ou pelo
menos aqueles que já conheço. Por isso te escrevi esta carta.
Da tua grande amiga …Maria Beatriz.
Sofia
Pereira
Av. Como tratar do seu
corpo, 780,4º Direito.
Tavira,30 novembro de 2011
Saudações, Amigo!
Venho por este meio chamar-te a atenção de que
tenho tido uma depressão devido ao corpo que tenho, ou seja, não tenho o corpo
que queria!
Gostava de poder ter um corpo maravilhoso, ou
melhor, poder fazer magia todos os dias, para poder escolher as roupas que
visto e a aparência que me apetece ter num dia…
Sabes? Desiludiste-me tanto! Porque em vez de
ser negra, não sou rosa? Em vez de ter dentes brancos não tenho verdes? E em
vez de ter cabelo em palha não tenho liso ou encaracolado?
Gostava tanto… Iria adorar ser rosa, ter
dentes verdes e ter cabelo liso!!!
Posso-te pedir uma coisa? Muda o meu visual.
De certeza que iria ser mais feliz e ter menos que fazer, como por exemplo: não
acordar todos os dias de manhã com o cabelo para o ar e ter de o lavar sempre,
sempre, sempre, ou então, ter roupas lindíssimas dentro do meu guarda-roupa e
num abrir e fechar de olhos poder ser linda e maravilhosa como uma princesa!
Acho que tenho de ir. A minha mãe está-me a
chamar para a ir ajudar a estender a roupa!
Ah! E não te esqueças do que falámos!
Com os meus cumprimentos…
Sofia
Pereira, Nº23, 7ºC
mulher rosa, mulher flor
Sofia,
é fácil gostar do teu negro rosa, dos teus dentes brancos em tom
de verde, do teu cabelo encaracolado que desarma qualquer liso vulgar. Somos
todos belos ao olhar de quem nos ama. O segredo está no olhar...e na
indiferença quanto à diferença. Dedico-te o texto que se segue, inspirado num
poema de Vinicius de Moraes. A ti e a todos os jovens que acham que não são
rosa nem têm dentes verdes.
G.R.
O LIVRO
Teresa Lopes,nº25, 7ºE
Tavira, 30 de novembro de 2011
Querido livro…
Gostava que soubesses que és muito especial
para mim. Não tenho palavras para descrever o quanto me ajudas nas aulas e o
quanto me estorvas quando me aborrece estudar!
Às vezes penso como seria se pudesses falar,
pois se consegues explicar-me as coisas por escrito porque não poderás fazê-lo oralmente?
Gostava de ter alguém com quem falar quando
me sinto triste em casa, quando não tenho nada para fazer ou quando me dizem
coisas que não mereço ouvir!
Ao final da noite, gostava que me contasses
uma história para poder adormecer e sonhar com o final dessa história até
amanhecer.
De manhã acordava e punha-te na minha mochila
pois, a partir de hoje, serias o meu melhor amigo! Todos pensam que sou uma
doida, mas só tu me compreendes, só tu me aconselhas e só tu me ajudas!
Agradeço o objeto que és e por nada deste
mundo isso irá mudar!
Adoro-te…
Sofia Pereira, nº23, 7ºC
Sofia Pereira, nº23, 7ºC
O MEU CORPO II
quadro de Diego Rivera
Teresa Lopes,nº25, 7ºE
Teresa, vamos pôr de parte essa história da "bastante gordura sem a quereres largar". Estás a querer enganar-nos. O José Luís Peixoto é um escritor e poeta português e dedica-te este poema. Vais gostar dele. Nasceu em Portalegre, em 1974. Um rapaz novo que não larga os piercings!...
G.R.
A MULHER MAIS BONITA DO MUNDO
Estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.
Entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.
Entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.
Há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.
Estás tão bonita hoje.
Os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
Estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.
Os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
De encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.
JOSÉ LUÍS PEIXOTO
A Casa, a Escuridão
(2002)
Estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.
Entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.
Entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.
Há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.
Estás tão bonita hoje.
Os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
Estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.
Os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
De encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.
JOSÉ LUÍS PEIXOTO
A Casa, a Escuridão
(2002)
Gosto muito deste escritor. Por isso fui espreitar o blogue dele e não resisti a "sacar" de lá este vídeo que fala muito das ideias que ele tem sobre a leitura e escrita. Uma conversa informal com a câmara, conversa simples e rica...como o José...e como ele merece.
G.R
O CIGARRO
Tavira, 30 de Novembro de 2011
Exmo. Sr.
Cigarro,
mandei-lhe esta carta para lhe dizer umas
determinadas verdades, porque, às vezes, o senhor parece que não tem noção da
realidade. Ainda não percebeu que, ao ser consumido, as pessoas só se estragam
a si mesmas? E não se trata só disso. Também se trata da poluição que o senhor
causa. Já pensou que, se cada pessoa, quando fumasse um cigarro, o mandasse
para o chão, nós já estávamos entupidos de tanto fumo? E tem muitos mais
problemas, tais como: ser viciante, ser caro, diminuir o tempo de vida…
Os meus cumprimentos (e veja se muda de atitude!!!!)
PS: deixe de ser tão mau para o ambiente!
Francisco,nº7, 7ºD
O MEU CÃO
Tavira,
30 de novembro, 2011
Querido cão...
Gostava que soubesses o quanto gosto de ti, mas é difícil
explicar, porque tu és um pobre animal. Não me percebes e tenho muita pena por
isso.
Já agora também gostaria que percebesses que, para mim, és o meu melhor amigo, pois ninguém me escuta como tu. És fofinho, querido, simpático e tens tudo de bom.
Se conseguisses falar comigo era espantoso. Haveria muitas coisas que partilharia contigo. Só me irritas quando queres todo o tipo da minha comida, como sandes e tudo mais.
E ainda bem que estás junto da minha família, pois de outra forma andavas aí nas ruas, chamar-te-iam rafeiro e tratar-te-iam mal. Tens tu muita sorte.
Eu prometo que, até à tua morte, nunca te deixarei nem te tratarei mal.
Nas manhãs de escola, quando não sou capaz de me levantar, és tu que me lambes e me despertas. Adoro – te por isso.
Já agora também gostaria que percebesses que, para mim, és o meu melhor amigo, pois ninguém me escuta como tu. És fofinho, querido, simpático e tens tudo de bom.
Se conseguisses falar comigo era espantoso. Haveria muitas coisas que partilharia contigo. Só me irritas quando queres todo o tipo da minha comida, como sandes e tudo mais.
E ainda bem que estás junto da minha família, pois de outra forma andavas aí nas ruas, chamar-te-iam rafeiro e tratar-te-iam mal. Tens tu muita sorte.
Eu prometo que, até à tua morte, nunca te deixarei nem te tratarei mal.
Nas manhãs de escola, quando não sou capaz de me levantar, és tu que me lambes e me despertas. Adoro – te por isso.
Ana Sofia, nº1, 7ºC
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