O mês de Dezembro ainda nos proporcionou dois encontros no Clube Escrever Mais. E com eles veio o Natal. Podem pensar que é banal. O tema do mês ser "O Natal"!...Eh!...Alguns poetas e romancistas portugueses acham que não. A beleza emana sempre do imaginário destes eleitos com fluidez e naturalidade.Às vezes nem eles se apercebem da facilidade com que transformam o vulgar em belo.Os sábios são humildes. De outra forma seriam ignorantes.
G.R.
P.S. Não acho o Natal vulgar, mas o teclado teima em levar-me a uma frase que se banalizou, não pelo seu conteúdo, mas pelo seu uso:"O Natal é quando um homem quiser."
Os poetas portugueses escrevem sobre o Natal
PRELÚDIO DE NATAL
Só depois se rasgava
a primeira cortina
E dispersa e dourada
no palco das vitrinas
a primeira cortina
E dispersa e dourada
no palco das vitrinas
a festa começava
entre odor a resina
e gosto a noz-moscada
e vozes femininas
entre odor a resina
e gosto a noz-moscada
e vozes femininas
A cidade ficava
sob a luz vespertina
pelas montras cercada
de paisagens alpinas
sob a luz vespertina
pelas montras cercada
de paisagens alpinas
David Mourão-Ferreira
FALAVAM-ME DE AMOR
Quando um ramo de doze
badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
menino eras de lenha e
crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
Natália Correia, O Dilúvio e a Pomba, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1979
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
Natália Correia, O Dilúvio e a Pomba, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1979
Leio o teu nome
Na página da noite:
Menino Deus...
E fico a meditar
No milagre dobrado
De ser Deus e menino.
Em Deus não acredito.
Mas de ti como posso duvidar?
Todos os dias nascem
Meninos pobres em currais de gado.
Crianças que são ânsias alargadas
De horizontes pequenos.
Humanas alvoradas...
A divindade é o menos.
Na página da noite:
Menino Deus...
E fico a meditar
No milagre dobrado
De ser Deus e menino.
Em Deus não acredito.
Mas de ti como posso duvidar?
Todos os dias nascem
Meninos pobres em currais de gado.
Crianças que são ânsias alargadas
De horizontes pequenos.
Humanas alvoradas...
A divindade é o menos.
Miguel Torga
História Antiga
Era uma vez, lá na Judeia,
um
rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da nação.
Mas, por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da nação.
Mas, por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
Miguel Torga
Natal
à beira-rio
É o
braço do abeto a bater na vidraça?
E o
ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te,
vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me
da água a infância ressurreta.
Da casa
onde nasci via-se perto o rio.
Tão
novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o
Menino nascia a bordo de um navio
Que
ficava, no cais, à noite iluminado…
Ó noite
de Natal, que travo a maresia!
Depois
fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto
mais na terra a terra me envolvia
E quanto
mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu,
Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira
desse cais onde Jesus nascia…
Serei
dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam
de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
David Mourão-Ferreira
ÁRVORE DE NATAL
A Árvore de Natal é um pinheiro ou abeto, enfeitado e iluminado,
especialmente nas casas particulares, na noite de Natal.
A tradição da Árvore de Natal tem raízes muito mais longínquas do que o
próprio Natal.
Os romanos enfeitavam árvores em honra de Saturno, deus da agricultura,
mais ou menos na mesma época em que hoje preparamos a Árvore de Natal. Os
egípcios traziam galhos verdes de palmeiras para dentro de suas casas no dia
mais curto do ano (que é em Dezembro), como símbolo de triunfo da vida sobre a
morte. Nas culturas célticas, os druidas tinham o costume de decorar velhos
carvalhos com maçãs douradas para festividades também celebradas na mesma época
do ano.
Segundo a tradição, S. Bonifácio, no século VII, pregava na Turíngia (uma
região da Alemanha) e usava o perfil triangular dos abetos com símbolo da
Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). Assim, o carvalho, até então
considerado como símbolo divino, foi substituído pelo triangular abeto.
Na Europa Central, no século XII, penduravam-se árvores com o ápice para
baixo em resultado da mesma simbologia triangular da Santíssima Trindade.
Como o uso da árvore de Natal tem origem pagã, este predomina nos países
nórdicos e no mundo anglo-saxónico. Nos países católicos, como Portugal, a
tradição da árvore de Natal foi surgindo pouco a pouco ao lado dos já
tradicionais presépios.
Contudo, em
Portugal, a aceitação da Árvore de Natal é recente quando comparada com os
restantes países. Assim, entre nós, o presépio foi durante muito tempo a única
decoração de Natal.
Até aos anos 50, a Árvore de Natal era
até algo mal visto nas cidades e nos campos era pura e simplesmente ignorada.
Contudo, hoje em dia, a Árvore de Natal já faz parte da tradição natalícia
portuguesa e já todos se
renderam aos Pinheirinhos de Natal!
Brevemente publicarei
os trabalhos que, na última quarta-feira, foram realizados pelos alunos que frequentam
o clube. Até lá, então.
G.R.
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