Há
um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam
sempre aos
mesmos lugares ...
É
o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos...
Fernando
Pessoa
Labirinto
ou não Foi Nada
Talvez
houvesse uma flor
aberta
na tua mão.
Podia
ter sido amor,
e
foi apenas traição.
É
tão negro o labirinto
que
vai dar à tua rua ...
Ai
de mim, que nem pressinto
a
cor dos ombros da Lua!
Talvez
houvesse a passagem
de
uma estrela no teu rosto.
Era
quase uma viagem:
foi
apenas um desgosto.
É
tão negro o labirinto
que
vai dar à tua rua...
Só
o fantasma do instinto
na
cinza do céu flutua.
Tens
agora a mão fechada;
no
rosto, nenhum fulgor.
Não
foi nada, não foi nada:
podia
ter sido amor.
David Mourão-Ferreira, in "À Guitarra e
à Viola"
Sem comentários:
Enviar um comentário