DOR DE ALMA
Meu pratinho
de arroz-doce
polvilhado
de canela;
Era bom mas
acabou-se
desde que a
vida me trouxe
outros
cuidados com ela.
Eu, infante,
não sabia
as mágoas
que a vida tem.
Ingenuamente
sorria,
me aninhava
e adormecia
no colo da
minha mãe.
Soube depois
que há no mundo
umas tantas
criaturas
que vivem
num charco imundo
arrancando
arroz do fundo
de
pestilentas planuras.
Um sol de
arestas pastosas
cobre-os de
cinza e de azebre
à flor das
águas lodosas,
eclodindo em
capciosas
intermitências
de febre.
Já não tenho
o teu engodo,
Ó mãe, nem desejo
tê-lo.
Prefiro o
charco e o lodo.
Quero o
sofrimento todo,
Quero
senti-lo, e vencê-lo.
António Gedeão
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