terça-feira, 29 de novembro de 2011



A SEDUÇÃO LIBERTINA COMO ARTE DO EQUÍVOCO
Para descontrair um pouco...
G.R.

sábado, 26 de novembro de 2011

JORNALISTAS DE PALMO E MEIO
                                                                                
No 7º ano, estudámos o texto jornalístico. Analisámos notícias, reportagens e entrevistas. Como já foi referido, o CLUBE ESCREVER MAIS tem sempre jornalistas disponíveis para divulgar eventos e atividades que decorrem na escola. Os textos são redigidos pelos alunos e publicados posteriormente na página da escola. É importante salientar que os alunos gostam de desempenhar este papel: serem jornalistas, pelo menos uma vez. A teoria tem mais sentido se a associarmos à prática. O entusiasmo e a autoestima destes jovens crescem. Sentem-se úteis.
Reconhecemos as dificuldades que os alunos manifestam na produção de textos e concordo com a necessidade de desbloquear o medo do “erro”. Assim, os nossos jovens aprendizes sentem-se envolvidos no processo da escrita sem se sentirem sozinhos, sem sentirem que o erro os diminui ou fragiliza. As estratégias mais eficazes são as que consistem em desafiar os alunos para a produção do que querem comunicar. Se há necessidade de melhoramento ou revisão da escrita, nós estamos com eles. Trata-se de uma aprendizagem partilhada que proporciona segurança e confiança nos alunos. Estes mostram-se recetivos a propostas de trabalho que apontam não só para a pesquisa mas também para a fruição e produção textual.

          Passemos então para a entrevista que o David Cruz, do 7ºD, fez à professora Maria do Natal.
                                                                                                                           
                                                                                                                                      Guilhermina Reis


Witch Parade
            Esta entrevista tem por objetivo divulgar uma atividade promovida pelo grupo de Inglês do 2º ciclo, integrada no Plano Anual de Atividades da escola. Trata-se da “Witch Parade”. Para obtermos informações mais detalhadas sobre este assunto, decidimos entrevistar uma das professoras responsáveis pelo evento, a professora Maria do Natal.
David Cruz – O que motivou a realização desta atividade?
Professora Maria do Natal - A atividade pretende dar a conhecer aspetos aos alunos e seus encarregados de educação sobre as culturas Inglesa e Americana. Quando se ensina uma língua estrangeira, não só transmitimos conhecimentos linguísticos como também divulgamos aspetos culturais dos países onde o Inglês é a língua oficial.
D.C. – Esta atividade é um concurso. Como se organizou?
P.M.N. – Cada professor de Inglês divulgou junto das suas turmas o objetivo do concurso (decorar da forma mais original possível uma fotocópia de uma bruxa em folha A3 dada a cada aluno). Os trabalhos foram feitos em casa onde poderia haver ajuda dos encarregados de educação. Foram expostos todos os trabalhos e as professoras de Inglês do 2º ciclo, em conjunto, decidiram quais os trabalhos, quer pela sua originalidade ou perfeição, que mereciam ser premiados. A escolha foi muito difícil, pois a qualidade e originalidade superou todas as expetativas. Daí ter sido decidido não se optar por um vencedor, mas sim por seis.
D.C .– Quantos alunos participaram no concurso?
P.M.N. – Participou todo o 2º ciclo. Só alguns alunos é que não entregaram os trabalhos.
D.C. – O concurso tinha algum regulamento?
P.M.N. – Havia duas únicas regras: a decoração não podia ultrapassar a folha A3 e os trabalhos tinham que ser entregues até ao dia 28 de Outubro.
D.C. – Deu para observar que os alunos fizeram os trabalhos com gosto?
P.M.N. – Como tinha dito antes, houve um grande envolvimento ao ponto de superar as nossas expetativas e os encarregados de educação também se mostraram bastante interessados e colaborantes, o que nos agradou muitíssimo.
D.C .– Houve prémios atribuídos aos vencedores?
P.M.N. – Aos seis melhores trabalhos foi atribuído um cheque-prenda no valor de cinco euros, que deverá ser trocado em material escolar na papelaria da escola. A cada um dos vencedores também lhes foi atribuído um diploma de participação.
D.C. – Quais as professoras que participaram nesta atividade?
P.M.N. – Foram todas as professoras de Inglês do 2º ciclo: a professora Romualda Monteiro, a professora Dolores Neto, a professora Paula Amaral e eu (professora Maria do Natal). Não podemos deixar de agradecer à professora Anabela Miranda que nos ajudou a fazer os cartazes com os títulos da atividade.
D.C. – Quem quiser ver os trabalhos, onde é que se pode dirigir?
P.M.N. – Os trabalhos estão expostos no átrio de entrada da escola.
D.C. – Muito obrigado por esta entrevista.
P.M.N. – Eu é que agradeço.
                                                  Entrevista realizada por David Cruz, nº5, 7ºD  



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Finalmente, é publicado o texto da Mariana, do 8ºE. Uma menina muito especial que adora escrever. Tem sonhos e quer ser feliz. Sê-lo-á, de certeza.
G.R.



Eu quero ser…
       
No futuro, eu quero ter um turismo rural com um restaurante ao lado. Quero geri-los com a minha irmã porque ambas partilhamos o mesmo sonho.
         Um terreno no meio dos campos coloridos do Algarve, onde haja espaço para a hortinha e para algumas galinhas. Aí, no meio do nada, e de lado nenhum, um edifício baixo e comprido que se confunde com a paisagem, com uma piscina natural no centro… O restaurante igual ao edifício. Muito rural, como que saído de um conto de fadas… Rodeado de ervas verdes e viçosas e milhares de pequenas flores.
         Os meus pais apoiam-me, a mim e à minha irmã, porque querem que nos sintamos felizes com o nosso trabalho no futuro e não querem que deixemos de sonhar.
         Se tudo correr bem, vou para uma escola de hotelaria e turismo quando acabar o 9º ano. Até lá vou esforçar-me por ter muito boas notas.
         Estou confiante. Afinal este é o meu sonho, o meu desenho, o que eu mais quero fazer. Sei que se me esforçar vou chegar longe mas para isso não posso desistir.
Mas, depois disto tudo, o meu maior desejo não é este. O meu maior desejo é ser livre, ser feliz, ser confiante e viver o resto da minha vida com alguém muito especial. Sim, o meu maior desejo é crescer.  

Mariana, 8ºE
Mais dois textos e terminamos com a invisibilidade.Uff!Ainda atravessamos paredes e não dão por nós!
Tornei-me invisível

  Espetacular! Aquilo de melhor que me podia acontecer está finalmente concretizado! Estou invisível!
  Ao acordar naquela bela manhã de Verão, reparei então no estranho fenómeno que me fez dar o maior grito da minha vida:
-Estou invisível!
  Vesti uma roupa discreta que tinha e desci para mostrar a novidade do dia.
  Os meus pais não queriam acreditar no que viam: uma panqueca esvoaçando pelo ar e logo repararam que ia na direção de algo fantástico - eu - que finalmente era diferente. E mal podia esperar por todas aquelas aventuras que ia viver, tal como aquelas que leio todos os dias nos meus livros de banda desenhada.
  Fui então pregar a primeira partida à D. Dulce, a minha vizinha chata que está sempre a resmungar comigo. Toquei à campainha e esperei que ela abrisse a porta.
Quando abriu, ao não ver ninguém, entrei discretamente, enquanto ela resmungava:
-Brincadeiras sem graça dos miúdos! Eu, na altura, é que me sabia divertir!
Fui para a cozinha, retirei os legumes da bancada e o pu-los de novo no frigorífico.
Quando viu de que se tratava exclamou:
-Ia jurar que já tinha começado a pôr os legumes na sopa!
  Saí discretamente e fui direito à mercearia, onde o Sr. João estava a meio de uma venda, com uma cliente que desejava um quilo de maçãs e duas peras. Retirei uma das peras que estava para pesar e, em vez disso, pus uma banana, facto que a senhora reparou logo:
- Eu disse que queria um quilo de maçãs e duas peras e não um quilo de maçãs e uma banana!
  Saí então dali a rir-me e a recordar todas estas aventuras e partidas, mas a pensar também quanto tempo mais aquilo iria durar. Foi a minha melhor experiência. Nunca mais a vou esquecer.

    Maria Beatriz Carmo        Nº15           7ºE    

 Tornei-me invisível

      Sabem? Eu tenho um segredo e tenciono contar-vos, mas vocês não podem contar a ninguém! O meu segredo é que eu sou invisível.
      Sempre desejei ser um rapaz normal, mas infelizmente nunca consegui. No entanto, quando penso no meu “problema”, tento sempre ver o lado positivo do mesmo, porque afinal há tanta gente que gostava de ser como eu. Neste meu segredo, existem várias vantagens, por exemplo: posso comer o que quiser porque ninguém está lá a controlar o que eu como; posso espiar as raparigas sem que elas saibam e muito mais. Mas o pior mesmo é ter que andar sempre nu para que ninguém me veja, e, como tenho vergonha de assumir a minha invisibilidade, aprendi a entreter-me sozinho. Normalmente, nos intervalos, vou para trás da escola jogar à bola porque nunca ninguém se lembra de ir para lá. Até porque agora a moda da escola é o berlinde. Depois das aulas, vou sempre para o meu clube preferido que se chama “Escrever+”. É muito fixe. Lá, posso fazer imensas coisas como: escrever textos, fazer PowerPoints, etc.
      Hoje estava a ver os rapazes a jogarem à bola e, de repente, senti qualquer coisa a tocar-me nas costas. Virei-me para ver o que havia acontecido e não vi ninguém. Depois fui-me embora . Quando dei o segundo passo, bati nalguma coisa, mas não estava lá nada. Por isso pensei logo que tinha encontrado alguém como eu. Tentei comunicar com ele ou ela, mas não me respondia, até que lhe disse para não se preocupar, porque não lhe ia fazer mal. Ele ficou assustado, mas acabou por dizer-me que também era invisível e contou-me algumas coisas sobre a sua vida. Disse-me que tinha sido abandonado pelos pais aos três anos, por eles não terem aceitado a invisibilidade dele. Ofereci-me de imediato para que ele ficasse em minha casa e ele, com muita vergonha, lá aceitou. A  minha vida melhorou consideravelmente. Finalmente tinha alguém que me compreendia. E assim vivi o resto dos meus dias feliz e alegre para sempre.

Francisco, 7ºD




Por Cátia Pacheco, 7ºE

G.R.

Comportamentos que também devem ser invisíveis. Vamos correr com eles.

sábado, 19 de novembro de 2011




O Clube Escrever Mais apresenta, todos os meses, um tema para os alunos darem asas à sua criatividade. Desafiámos, então, os nossos "pequenos escritores" com esta proposta:



                                                                                                                    G.R.
Tornei-me invisível
A partir de uma mudança familiar, tudo mudou. Nunca pensei que, por mudar de cidade, escola, amigos … tal mudança se instalasse na minha vida.
Com todas as reações dos outros para comigo, sentia-me uma intrusa no mundo, só desejava desaparecer e não voltar.
A revolta instalou-se totalmente em mim, nada me levava a compreender aqueles comportamentos diferentes do habitual. Qual seria o verdadeiro problema, se eu nunca cheguei a tocar em nenhum dos meus colegas, nunca lhes faltei ao respeito? Pelo contrário, a minha maneira de ser sempre foi muito respeitadora.
Sentia-me sozinha, porque, na verdade, nem a minha mãe, que era a única pessoa em quem eu confiava, arranjava tempo para me ouvir, e era por isto e por aquilo que acabei por me isolar.
Cansei-me de vez, já não aguentava suportar toda aquela dor dentro de mim, estava farta de sentir as lágrimas correrem-me pelo rosto dia após dia.
E assim ficou. Desisti de criar laços de sangue. Percebi que nada havia a fazer. Limitei-me a pensar em mim e a esquecer tudo aquilo que me rodeava, talvez até de mais.
Levei o resto da minha vida invisível, até hoje. Penso que assim é o melhor. Não me sinto capaz de voltar aos sentimentos anteriores.

O meu passado tornou-se uma fonte de aprendizagem para o resto da minha vida.
                                                                                                      Ana Carolina, nº1, 7ºD


 



TORNEI-ME INVISÍVEL
      Por favor! Ajudem-me, não sei o que fazer!
       Estava a ter uma bela noite de sono, quando acordei para beber um copo de leite e para ir à casa de banho. Mas quando entrei na casa de banho e acendi a luz, entrei em pânico!
     Sim, não pensem que estou a exagerar, porque não estou!
     Eu já não existia, quer dizer, nem sei se ainda posso continuar a tratar-me por “eu”.
      Quando me olhei ao espelho, vi que estava invisível. Não pensem que é mau, é mesmo muito mau. Imaginem lá se vos acontecesse isso! Como vou revelar esta minha nova “aparência” aos meus pais?
      Desculpem, mas não me farto de dizer que estou em pânico!
      Acho que estou a ouvir a porta do quarto dos meus pais. Ai meu Deus! O que é que eu faço?
      Eles estão-se a aproximar de mim, mas não. Eu não estou a acreditar no que me está a acontecer. Eles “atravessaram-me” e nem repararam que era sua filha. Neste momento estão a tomar o pequeno- almoço e devem estar quase a irem ao meu quarto para me acordar!
      Esperem um pouco, que eu vou espreitá-los. Vão-se levantar.
      Esperem! Já estão levantados e a encaminharem-se para o quarto.
     Eu nem quero pensar quando eles entrarem e virem que não está ninguém no quarto.
     Eu vou ganhar coragem e vou falar com eles, não acham?

     Aiiiiii ! Eles iam desmaiando quando me ouviram falar e não me viram, mas acabaram por compreender. Ah, e também me disseram para hoje não ir à escola.
     Como podem ver, esta história é uma prova de que os problemas têm sempre solução, mesmo quando pensamos que não têm!

     Ah! E obrigada pelos vossos conselhos!  
Bruna Silva, nº5, 7ºC






TORNEI-ME INVISÍVEL
            Não consigo aguentar mais. Acho que vou explodir a qualquer momento. Sou como uma folha de papel amachucada que jogam fora e ninguém repara.
Todos passam por mim e nem me dizem “bom dia” nem “boa tarde”. É como se eu não estivesse lá. Eu digo “bom dia” aos professores e eles nem me falam.
Vou contar o pior episódio da minha vida.
Acordei sobressaltado. Tremia por todos os lados. Era como se estivesse a morrer. Levantei-me, fui à casa de banho e de repente comecei a chorar sem fim. Mas lembrei-me que tinha de sobreviver mais um dia de desprezo e ergui a cabeça. Despachei-me e disse “Bom dia” à minha mãe. Esta nem me falou. Deixei estar e saí de casa para a escola.
Ia para a escola quando encontrei os meus colegas. Fui ter com eles e disse-lhes “Olá” com uma expressão alegre. E eles nem me olharam. Fiquei triste e fui deixado para trás. Senti-me transparente. Quando cheguei à escola, vi imensos colegas. Eu até perguntei ao porteiro o que se passava. Nem ele me respondeu.
Até parecia que não estava naquele sítio, porque ninguém me falava.
Cada dia que passa, em vez de subir um degrau para a felicidade, desço cada degrau para o fundo do poço. Só vejo a escuridão à minha frente.
Ninguém me compreende. Às vezes, quando vou falar com a minha mãe, ela diz-me para me ir embora porque está a trabalhar.
Sinto-me frustrado e deito-me a chorar até de manhã, mas tenho de me levantar. Aliás, se não me levantasse, não fazia diferença porque a minha mãe não repara que eu estou em casa. Ela está sempre fechada no escritório a escrever artigos para um jornal, no computador. Cada vez que vou ao escritório para ir buscar alguma coisa, a minha mãe nem sequer repara que eu estou lá.
Escrevo isto porque sinto que cheguei ao fundo do poço.

Miguel Santos/ nº18/ 7º E



quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Para a Ana Catarina Costa, aluna do 7ºC. Foi ela que teve a ideia de distribuir os jornais aos colegas, quando foi apresentado o trabalho sobre o texto jornalístico. Foi uma excelente ideia, Ana!
G.R.

A REGRA DA SEMANA



                                                          Teresa Lopes e Cátia Pacheco, 7ºE


                              Teresa Lopes e Cátia Pacheco, 7ºE

terça-feira, 15 de novembro de 2011


O Acordo tem por objetivo criar normas ortográficas (ou seja, regras de como escrever as palavras) para o português, a serem usadas por todos os países de língua oficial portuguesa. “A existência de duas ortografias oficiais da língua portuguesa, a lusitana e a brasileira, tem sido considerada como largamente prejudicial para a unidade intercontinental do português e para o seu prestígio no Mundo”, frisa a Nota Explicativa do Acordo.
A adoção da nova ortografia implica mudanças na grafia de cerca 1, 6% do total das palavras na norma em vigor em Portugal, nos PALOP e em Timor-Leste, e em cerca de 0, 5% do total das palavras na norma em vigor no Brasil.

      

De acordo com o aviso nº 255/2010 do Ministério dos Negócios Estrangeiros, publicado a 17 de setembro de 2010 no Diário da República, o Acordo Ortográfico de 1990 vigora em Portugal desde 13 de maio de 2009, data em que foi depositado junto da República Portuguesa o instrumento de ratificação do Acordo do Segundo Protocolo Modificado ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
É a partir desta data que começou a ser contado em Portugal o período de transição de 6 anos estipulado por lei, o que significa que 2015 é o prazo-limite para a adoção oficial da nova ortografia.
Ao longo desse tempo, “a ortografia constante de novos atos, normas, orientações, documentos […] que venham a ser objeto de revisão, reimpressão, reedição ou qualquer outra modificação, independentemente do seu suporte, deve conformar-se às disposições do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa”, dita o documento.
            

Recolha de Cátia Pacheco, 7ºE

segunda-feira, 14 de novembro de 2011


O mar foi ontem o que o idioma pode ser hoje, basta vencer alguns Adamastores.
                                             Mia Couto

O DESACORDO DO ACORDO
Ortografia tem origem no grego (ortho-grafos) e significa a forma correta de escrever.
Sabemos que a língua é um fenómeno dinâmico e evolui naturalmente ao longo dos tempos. Nem sempre é fácil ceder à mudança. O Acordo Ortográfico tem provocado alguns desacordos que despertam criatividades talvez adormecidas. A discórdia, geralmente, é uma consequência das mudanças para as quais as pessoas ainda não estão preparadas. Se essas discordâncias nos provocarem um sorriso nos lábios, serão uma forma saudável de refletirmos sobre o tema já poetizado há tanto tempo por Camões nas palavras:
Mudam-se os tempos
Mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
(…)
O texto que se segue é um exemplo do direito à discordância. Esperemos que a democracia não se transforme num mito ou numa miragem longínqua. Passemos a ler, então, esta espécie de Manifesto Anti-Dantas invertido, um inconformado que reconhece que tem que se conformar.
                                                 Guilhermina Reis
Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio. Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim! Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas. O que é ser proativo? Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.
Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em ‘há de’ há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe, flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.
As palavras transformam-nos. Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto. Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê a atrapalhar.
De Manuel Halpern, jornalista e crítico do Jornal das Letras, Artes e Ideias


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Esperem só mais um pouco. Amanhã?
Mia não é uma mulher, professora?
     Mia Couto é o escritor dos neologismos. Inventa palavras como ninguém. Histórias da terra. E dos homens que nada têm. Talvez tenham sonhos e sofrimento. As palavras criadas por Mia só cabem nos seus livros. São feitas por ele e para ele. Nós temos o privilégio de as ler. Se as soubermos sentir chegamos ao céu. E é por causa do céu, da nuvem e da chuva que eu escolhi este texto do Emílio (Mia) Leite Couto, escritor moçambicano, “fazedor” único da palavra, para comentar e mostrar aos meus alunos o que é um texto literário.

 
         Pingo e Vírgula
“ Os deuses pilavam as nuvens cínzeas e a água se amedoinhava, grão a gota. Depois, se despenhava, desamparada. Água a sul, águia azul. E a terra, aos seus primeiros toques, soltava o seu feminino perfume. Mas o namoro é breve. A água é amante incerta e vagueia sua eterna indecisão entre duas residências: o chão e o céu. Tímidos dedos roçam a vidraça. É a chuvinha, tão leve, tão menina que só pode tombar por lapso do céu. Parto prematuro da nuvem, a chuva não cria poça, nem deixa descendência. Extingue-se, sorvida sem vestígio. E a areia nem se mexe. O aguaceiro foi só cócega na imensa pele do mundo.”
 (…)                                                                                       Mia Couto, Cronicando
Não. Mia não é uma mulher. Mia é a poesia, é a prosa que condensa, transforma, embeleza a mulher, o homem, a terra, o mar, a pedra, a tristeza e a solidão. Também fala de coisas boas. No seu romance Jesusalém, ele diz “A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado”.                        
                                                                    Guilhermina Reis