O Clube Escrever Mais apresenta, todos os meses, um tema para os alunos darem asas à sua criatividade. Desafiámos, então, os nossos "pequenos escritores" com esta proposta:
A partir de uma mudança familiar, tudo mudou. Nunca pensei que, por mudar de cidade, escola, amigos … tal mudança se instalasse na minha vida.
Com todas as reações dos outros para comigo, sentia-me uma intrusa no mundo, só desejava desaparecer e não voltar.
A revolta instalou-se totalmente em mim, nada me levava a compreender aqueles comportamentos diferentes do habitual. Qual seria o verdadeiro problema, se eu nunca cheguei a tocar em nenhum dos meus colegas, nunca lhes faltei ao respeito? Pelo contrário, a minha maneira de ser sempre foi muito respeitadora.
Sentia-me sozinha, porque, na verdade, nem a minha mãe, que era a única pessoa em quem eu confiava, arranjava tempo para me ouvir, e era por isto e por aquilo que acabei por me isolar.
Cansei-me de vez, já não aguentava suportar toda aquela dor dentro de mim, estava farta de sentir as lágrimas correrem-me pelo rosto dia após dia.
E assim ficou. Desisti de criar laços de sangue. Percebi que nada havia a fazer. Limitei-me a pensar em mim e a esquecer tudo aquilo que me rodeava, talvez até de mais.
Levei o resto da minha vida invisível, até hoje. Penso que assim é o melhor. Não me sinto capaz de voltar aos sentimentos anteriores.
O meu passado tornou-se uma fonte de aprendizagem para o resto da minha vida.
Ana Carolina, nº1, 7ºD
TORNEI-ME INVISÍVEL
Por favor! Ajudem-me, não sei o que fazer!
Estava a ter uma bela noite de sono, quando acordei para beber um copo de leite e para ir à casa de banho. Mas quando entrei na casa de banho e acendi a luz, entrei em pânico!
Sim, não pensem que estou a exagerar, porque não estou!
Eu já não existia, quer dizer, nem sei se ainda posso continuar a tratar-me por “eu”.
Quando me olhei ao espelho, vi que estava invisível. Não pensem que é mau, é mesmo muito mau. Imaginem lá se vos acontecesse isso! Como vou revelar esta minha nova “aparência” aos meus pais?
Desculpem, mas não me farto de dizer que estou em pânico!
Acho que estou a ouvir a porta do quarto dos meus pais. Ai meu Deus! O que é que eu faço?
Eles estão-se a aproximar de mim, mas não. Eu não estou a acreditar no que me está a acontecer. Eles “atravessaram-me” e nem repararam que era sua filha. Neste momento estão a tomar o pequeno- almoço e devem estar quase a irem ao meu quarto para me acordar!
Esperem um pouco, que eu vou espreitá-los. Vão-se levantar.
Esperem! Já estão levantados e a encaminharem-se para o quarto.
Eu nem quero pensar quando eles entrarem e virem que não está ninguém no quarto.
Eu vou ganhar coragem e vou falar com eles, não acham?
Aiiiiii ! Eles iam desmaiando quando me ouviram falar e não me viram, mas acabaram por compreender. Ah, e também me disseram para hoje não ir à escola.
Como podem ver, esta história é uma prova de que os problemas têm sempre solução, mesmo quando pensamos que não têm!
Ah! E obrigada pelos vossos conselhos!
Bruna Silva, nº5, 7ºC
TORNEI-ME INVISÍVEL
Não consigo aguentar mais. Acho que vou explodir a qualquer momento. Sou como uma folha de papel amachucada que jogam fora e ninguém repara.
Todos passam por mim e nem me dizem “bom dia” nem “boa tarde”. É como se eu não estivesse lá. Eu digo “bom dia” aos professores e eles nem me falam.
Vou contar o pior episódio da minha vida.
Acordei sobressaltado. Tremia por todos os lados. Era como se estivesse a morrer. Levantei-me, fui à casa de banho e de repente comecei a chorar sem fim. Mas lembrei-me que tinha de sobreviver mais um dia de desprezo e ergui a cabeça. Despachei-me e disse “Bom dia” à minha mãe. Esta nem me falou. Deixei estar e saí de casa para a escola.
Ia para a escola quando encontrei os meus colegas. Fui ter com eles e disse-lhes “Olá” com uma expressão alegre. E eles nem me olharam. Fiquei triste e fui deixado para trás. Senti-me transparente. Quando cheguei à escola, vi imensos colegas. Eu até perguntei ao porteiro o que se passava. Nem ele me respondeu.
Até parecia que não estava naquele sítio, porque ninguém me falava.
Cada dia que passa, em vez de subir um degrau para a felicidade, desço cada degrau para o fundo do poço. Só vejo a escuridão à minha frente.
Ninguém me compreende. Às vezes, quando vou falar com a minha mãe, ela diz-me para me ir embora porque está a trabalhar.
Sinto-me frustrado e deito-me a chorar até de manhã, mas tenho de me levantar. Aliás, se não me levantasse, não fazia diferença porque a minha mãe não repara que eu estou em casa. Ela está sempre fechada no escritório a escrever artigos para um jornal, no computador. Cada vez que vou ao escritório para ir buscar alguma coisa, a minha mãe nem sequer repara que eu estou lá.
Escrevo isto porque sinto que cheguei ao fundo do poço.
Miguel Santos/ nº18/ 7º E